Sua produtividade caiu, a criatividade desapareceu e a iniciativa está em baixa? Você acha que a empresa não reconhece o seu talento e não te dá espaço pra expressar suas melhores características? Já teve várias vezes a sensação de que é preciso se enquadrar em regras e processos que não fazem sentido, pra crescer e se desenvolver profissionalmente?
Se você respondeu sim à uma (ou várias) das perguntas acima, eu arriscaria dizer que não há nada de errado com você. Ao contrário, uma coisa muito boa pode estar acontecendo: sabe aquela parte de você que não recebeu muita atenção ao longo dos últimos anos (ou décadas), porque você estava ocupado estudando, arrumando um bom emprego, sendo promovido, virando gerente, diretor, presidente (…)? Sim, essa aí mesmo que você pensou agora! É bem provável que ela tenha cansado de esperar e esteja começando a se manifestar, exigindo posição de destaque em sua vida.
Tá parecendo papo de maluco? Calma, eu explico.
Desde o início dos tempos (para nós, humanos), as aptidões e características individuais foram reconhecidas, desenvolvidas e utilizadas à serviço das pequenas tribos familiares em que vivíamos. As tarefas eram (mais ou menos) determinadas levando em consideração a capacidade dos indivíduos de exercê-las. Características físicas e habilidades naturais eram consideradas na divisão de atividades.
Na pré-história, já havia indícios de certa organização, colaboração e até liderança. Afinal, era preciso garantir a caça, mas também era necessário que alguém preparasse e distribuísse proporcionalmente os alimentos. Então, foram surgindo tarefas mais complexas: alguns indivíduos construíam os abrigos, outros produziam ferramentas e utensílios, outros teciam as vestes; um grupo cuidava das crianças, outro era responsável pela saúde dos membros da tribo; havia quem fizesse os registros históricos e até quem dominasse o entendimento do clime e das estações do ano. Todos tinham importância na sobrevivência do grupo e nenhuma tarefa era mais importante que a outra. Cada indivíduo tinha oportunidade de usar o que sabia (ou aprendia a) fazer para servir aos demais, em retribuição aos benefícios que eram garantidos a ele por pertencer ao grupo — como moradia, alimento e proteção.
Milhares de anos se passaram e a humanidade se desenvolveu muito — ainda bem. Dominamos o fogo, desenvolvemos formas de irrigação avançadas, que nos permitiram viver em grandes centros; passamos a armazenar alimentos, começaram as disputas por poder, território e novas formas de liderança surgiram. Hoje, somos o que somos e o mundo se tornou imensamente mais complexo do que era (tá aí o Trump, que não me deixa mentir).
Passamos a exercer funções que não tinham absolutamente nenhuma relação com as nossas habilidades, características e dons naturais. Os nossos talentos passaram a ser secundários ou ficaram esquecidos. Em outras palavras, aquela sua característica mais marcante — ser comunicativo, artístico, analítico, engenhoso, intuitivo, sociável, empreendedor… — pode ter sido soterrada por todas as ambições e ideais que a sociedade te ensinou a perseguir.
As empresas e o mercado de trabalho se tornaram tão complicados e competitivos, que todo mundo passou a ter que saber fazer tudo, com perfeição, rapidez, eficiência e (de preferência) baixo custo. Que tal? Será que existe receita melhor para um mundo cheio de pessoas desmotivadas, infelizes, sem energia, desenvolvendo doenças emocionais e físicas?
Quantas pessoas você conhece (além de você mesmo), que escolheram suas carreiras pela empregabilidade, possibilidade de sucesso, dinheiro, reconhecimento — ou qualquer outro fator que não tenha relação alguma com as suas aptidões naturais? Deu pra encher uma mão inteira? Ok. Agora me responda: você acha que essas pessoas da sua lista, que trabalham 8 horas por dia (no mínimo), passam 2 horas no trânsito, cuidam da casa, dão atenção aos filhos, ao cônjuge e fazem o melhor que podem pra estarem em dia com todos os padrões de beleza, felicidade e consumo, têm algum tempo de sobra pra expressarem seus talentos naturais? Pouco provável, né?
Então, você me pergunta: vamos todos largar os nossos empregos e viver de sonhos, menina? Não, não é isso que estou sugerindo. Nem de brincadeira. Especialmente em um país como o Brasil, em que tantas pessoas não têm nem o que comer e precisamos pagar por quase tudo — de comida a lugar pra morar, passando por saúde, educação e transporte. Além disso, trabalhar pode ser engrandecedor, inspirador e proporcionar incontáveis oportunidades de aprendizado, novos relacionamentos e desenvolvimento de competências que você não fazia ideia que tinha.
Estou só te convidando a refletir. Porque talvez você esteja depositando na empresa que te contratou a responsabilidade de fazer você se sentir realizado de uma forma que ela não vai conseguir — ainda que te ofereça o escritório mais colorido e charmoso, somado à todas as promoções que você colocar na lista. Afinal, tem uma parte da sua vida, que só voc
ê tem acesso: aí dentro.
Ninguém, além de você mesmo, sabe o que é preciso pra tornar a sua vida mais agradável e equilibrada, mas, talvez você tenha se esquecido de reservar tempo pra fazer isso, ou tenha terceirizado essa responsabilidade. Pode ser que você tenha colocado o trabalho em primeiro lugar na sua vida e tenha se perdido um pouco nessa jornada. Aí, é provável que você tenha passado a achar que é obrigação da empresa te manter motivado e te oferecer todas as oportunidades de encontrar a felicidade eterna. Entretanto, você é o único que pode parar pra se ouvir, pra refletir sobre a sua situação atual e pra definir o que pode ser feito pra abrir espaço na sua vida pra expressar aquilo que você faz muito bem, naturalmente e de graça — que coincidentemente, pode ser a mesma coisa que te faz sentir feliz, motivado e cheio de energia.
Portanto, se você está passando por uma crise de produtividade e criatividade, isso é ótimo! Aproveite essa oportunidade valiosa pra fazer uma visita àquela terra tão pouco explorada, onde moram os seus sonhos, os seus talentos, valores e aspirações. Quando chegar lá, pergunte a si mesmo: o que posso começar a colocar em prática, hoje mesmo, pra transformar essa realidade? Talvez você se surpreenda ao perceber que pequenas mudanças podem ser grandes fontes de inspiração e alegria. Mas acho que você vai se surpreender mais ainda ao descobrir que a sua essência é a sua melhor mentora em caso de desânimo — não o seu chefe.